Cosmotron V2 x Seiko 3302: o duelo eletromecânico de 2025 que enlouquece os geeks de relógios

Antes de o quartzo revolucionar a relojoaria, dois gigantes japoneses enfrentaram-se numa batalha tecnológica pouco conhecida. Entre transístores revolucionários e contactos mecânicos aperfeiçoados, a Citizen e a Seiko criaram relógios que hoje desafiam todas as lógicas do mercado vintage.

Imagine um relógio que faz “tique-taque” 10 vezes por segundo. Um som tão rápido que se torna hipnótico, quase eletrónico. É a batida de um Cosmotron V2, um relógio que 99% dos colecionadores desconhecia há 5 anos. Hoje? Os preços triplicaram.

Entre 1968 e 1973, a Citizen e a Seiko travaram uma fascinante guerra tecnológica. Não para criar o relógio mais bonito ou prestigioso. Não. Para inventar o futuro da relojoaria. O Cosmotron com as suas 36.000 alternâncias/hora enfrentava o Seiko 3302 e a sua robustez lendária. Relógios eletromecânicos – nem verdadeiramente mecânicos, nem ainda de quartzo – que representavam o beco sem saída evolutivo mais brilhante da história da relojoaria.

Esquecidos durante 40 anos, desde 2019 que vivem um renascimento espetacular. Os colecionadores tradicionais? Ficaram para trás. São os techno-geeks no TikTok e no Telegram que ditam as regras.

Esta é a história de um duelo de engenheiros cujo eco ressoa mais forte do que nunca.

Preâmbulo: o sonho elétrico e o seu despertar em 2025

No final da década de 1960, a indústria relojoeira mundial – então dominada pela supremacia mecânica suíça – encontrava-se à beira de uma revolução tecnológica sem precedentes. Neste clima de efervescência, dois gigantes japoneses, Citizen e Seiko, travavam uma corrida desenfreada para definir o futuro do tempo. Antes que a revolução do quartzo varresse tudo à sua passagem, surgiu uma tecnologia fascinante e efémera: o relógio eletromecânico. Verdadeira ponte entre dois mundos, casava a alma da relojoaria tradicional (um balancim oscilante, o coração pulsante do relógio) com a promessa da era eletrónica (uma pilha como fonte de energia). Estas criações não são meros produtos; são artefactos de um brilhante impasse evolutivo, testemunhas físicas de duas filosofias de engenharia em confronto pela supremacia.

O Cosmotron da Citizen, com a sua arquitetura de transístor, e o calibre 3302 da Seiko, fiel a um sistema de contacto, personificam este duelo. Produzidos durante um curto período, de aproximadamente 1968 a 1973, estes relógios foram rapidamente ofuscados pela precisão e baixo custo do quartzo, e depois largamente esquecidos durante quase meio século. No entanto, desde 2019, está a ocorrer uma redescoberta espetacular. Já não são os colecionadores tradicionais que os desenterram, mas sim uma nova geração de techno-geeks e amadores informados. Os seus campos de caça não são as feiras da ladra poeirentas, mas os fóruns especializados (WatchUSeek, WatchCrunch ou o Tech Talk do WatchUSeek), os grupos confidenciais de Telegram de Hong Kong e os hipnóticos feeds visuais do TikTok. Um exemplo pessoal: adquiri o meu primeiro Cosmotron através de um vendedor japonês no Telegram em 2021, após uma troca de 37 mensagens (e a espera ansiosa por uma encomenda durante 4 semanas…). Isto diz muito sobre a mudança dos tempos!

Este artigo propõe uma análise exaustiva deste duelo apaixonante, à luz do ano de 2025. Iremos mergulhar no coração da mecânica e da eletrónica destas duas famílias de calibres, analisar o seu valor no mercado atual e fornecer um guia de compra completo para o investidor e colecionador informado. É a história de uma batalha de engenheiros cujo eco, transportado por um tique-taque rápido e singular, ressoa mais forte do que nunca na era digital.

Publicidade do Citizen X8 Cosmotron Chrono Master (1969) com tema espacial
Em 1969, a Citizen proclama o advento da era do relógio eletrónico com este X8 Cosmotron Chrono Master, encenado contra um fundo da Lua e da Terra – Crédito: Sweephand (Vintage Citizen)

1. Contexto histórico: uma batalha de engenheiros no limiar do quartzo

Para compreender a rivalidade entre o Cosmotron V2 e o Seiko 3302, é imperativo entender as estratégias distintas dos seus criadores. A Citizen apostou numa rutura tecnológica audaciosa, enquanto a Seiko optou por um aperfeiçoamento pragmático de uma tecnologia existente. Assim, as duas abordagens, embora concorrentes, oferecem cada uma um vislumbre do estado de espírito da indústria relojoeira japonesa na véspera da revolução do quartzo.

1.1 A vanguarda da Citizen: o Cosmotron V2 e a revolução do transístor

A história do Cosmotron é a de uma ambição devoradora: vencer os suíços no seu próprio terreno (precisão e fiabilidade) usando uma nova arma. A aventura não começa em 1968, mas sim em 1966 com o lançamento pela Citizen do calibre 0801, comercializado sob a designação X8 Electronic (inicialmente chamado Electric Watch). Este movimento é de importância capital: é muito provavelmente o primeiro calibre de relógio de pulso do mundo a usar um balanço de íman móvel regulado por um transístor. Esta inovação, protegida pela patente japonesa 42-118, eliminava os contactos físicos sujeitos ao desgaste dos primeiros relógios elétricos, antecipando em dois anos o famoso calibre Dynotron da europeia ESA. As primeiras versões X8 (como o Chronomaster) eram conhecidas pela sua alta qualidade de fabrico, com 25 rubis, um ajuste de precisão e um acabamento cuidado – justificando um preço de venda elevado para a época. A Citizen mostrava claramente as suas ambições ao investir massivamente nesta tecnologia.

Movimento Citizen X8 Electronic (25 rubis, 1966) aberto
Movimento do primeiro Citizen X8 Electronic (calibre 0801, 1966) – distingue-se a construção híbrida com balancim (em baixo) e componentes eletrónicos (sob a tampa vermelha); esta versão Chronomaster com 25 rubis visava os padrões cronométricos – Crédito: Sweephand (Vintage Citizen)

O Cosmotron V2 propriamente dito, tema central do nosso duelo, corresponde à segunda geração bem-sucedida desta tecnologia. Em 1968, a Citizen lança o calibre 0840 (21.600 alt/h, 12 rubis), a primeira iteração a ostentar oficialmente o nome Cosmotron. Mas é por volta de 1972 que a série de calibres 7800, que chamamos V2, surge e representa um salto qualitativo importante. A sua inovação mais espetacular é a adoção de uma frequência de funcionamento muito elevada: 36.000 alternâncias/hora (ou 5 Hz). Este desempenho colocava o Cosmotron em competição direta com os cronómetros mecânicos mais precisos da época (Zenith El Primero, Grand Seiko Hi-Beat…). A Citizen chegou mesmo a certificar alguns relógios eletrónicos Cosmotron Chronometer como Officially Certified Chronometer, provando que podiam rivalizar com a elite relojoeira suíça e japonesa.

Anatomia de um pioneiro: o calibre 7800 é um movimento com motor de balanço controlado eletronicamente. Um transístor, com a marca NEC (um detalhe crucial para a autenticação), dá o impulso eletromagnético ao balanço, assegurando uma oscilação estável e precisa sem contacto físico. Esta arquitetura não só era mais fiável, como também mais eficiente. A Citizen levou a audácia ao ponto de integrar em alguns modelos uma complicação única para um relógio elétrico: um botão de reposição a zero (flyback) do ponteiro dos segundos (no calibre 7803A Special, botão às 8h) – uma funcionalidade inspirada nos cronógrafos de alto nível. O Cosmotron V2 não era, portanto, apenas um simples relógio a pilhas: era uma demonstração de força tecnológica, um manifesto da relojoaria japonesa que indicava que podia não só igualar, mas superar os suíços no seu campo de eleição.

1.2 A resposta da Suwa Seikosha: o rigor mecânico do calibre 3302

Face à ofensiva tecnológica da Citizen, a resposta da Seiko – concebida pela sua manufatura de Suwa Seikosha e lançada em 1969 – foi mais contida, mas igualmente brilhante na sua conceção.

Uma filosofia diferente: o calibre Seiko 3302 (e a sua variante de dia e data 3303) representa uma abordagem mais conservadora e pragmática. Em vez de adotar o transístor nascente, os engenheiros da Suwa optaram por aperfeiçoar o comprovado sistema de contactos mecânicos. O movimento baseia-se num balanço clássico (com espiral) acionado por uma bobina eletromagnética, mas a regulação da sua oscilação é assegurada por um interruptor elétrico de lâminas flexíveis (interruptor Reed). Em termos simples, um pequeno contacto abre e fecha a cada alternância do balanço, fornecendo o impulso magnético adequado. Esta solução, menos moderna no papel do que o transístor, tinha a vantagem de ser bem dominada pelos relojoeiros e de evitar os problemas de fiabilidade dos primeiros transístores.

Movimento Seiko 3302A (eletromecânico, 1969)
Movimento Seiko 3302A (1969) – arquitetura eletromecânica com balancim tradicional (à esquerda) e bobina + contactores (em baixo). Este calibre de 21.600 alt/h e 9 rubis ilustra a abordagem pragmática da Seiko, apostando em componentes conhecidos – Crédito: Mizeni.com

Anatomia de um tradicionalista: a arquitetura do 3302 conserva elementos muito familiares. O balancim ainda tem uma raquete de regulação, e o movimento bate a 21.600 vph (3 Hz), uma frequência mais convencional. Possui 9 rubis, uma especificação típica dos calibres mecânicos japoneses fiáveis do final dos anos 60. A ponte de contacto visível na parte superior mantém o famoso interruptor Reed (filamentos metálicos muito finos que se atraem e repelem para fechar/abrir o circuito a cada oscilação). Esta escolha técnica, embora menos vanguardista que o transístor do Cosmotron, oferecia vantagens em termos de robustez e facilidade de manutenção para a rede de relojoeiros da época. Uma ponte pragmática para o futuro: a estratégia da Seiko com o 3302 reflete uma cultura empresarial focada na produção em massa e na fiabilidade. Ao basear-se numa tecnologia conhecida, a Seiko minimizava os riscos industriais e assegurava uma produção fluida. É crucial notar que o desenvolvimento do 3302 pela Suwa decorria em paralelo com os trabalhos finais sobre o Quartz Astron (comercializado no final de 1969). O 3302 pode, portanto, ser interpretado como uma apólice de seguro – um produto de transição pragmático, fruto de uma saudável competição interna – em vez de uma aposta no futuro. Representa, de certa forma, o aperfeiçoamento último de um paradigma tecnológico, precisamente no momento em que outro se preparava para o tornar obsoleto.

Pequeno piscar de olhos histórico: em 1972, a Seiko lançaria mesmo uma série concorrente na sua manufatura irmã, a Daini Seikosha, chamada EL-370, também com transístor e balanço. Prova de que na Seiko as duas abordagens coexistiam… e quase competiam internamente. No entanto, a hora do quartzo estava prestes a varrer tudo, relegando estas maravilhas eletromecânicas para o estatuto de um parêntese na história.

2. Metodologia de comparação e análise de mercado (2015-2025)

Para oferecer uma análise pertinente e acionável, a nossa comparação baseia-se num quadro metodológico rigoroso, adaptado ao mercado de colecionadores em 2025.

Teto de compra para 2025: estabelecemos um teto de 1.800 € por relógio. Este montante corresponde ao limite superior atual para adquirir um exemplar de primeira escolha (mas não New Old Stock) das referências mais desejáveis destas duas famílias de calibres. Isto posiciona a nossa análise no segmento dos colecionadores sérios, dispostos a investir uma soma significativa por uma peça historicamente importante – sem, no entanto, cair em delírios especulativos acima dos 2.000 €.

Fontes de dados: a nossa análise de mercado baseia-se num conjunto de fontes complementares para garantir uma visão global e precisa:

  • Mercado japonês (preço de referência): resultados de vendas arquivados no Yahoo! Japan Auctions e Mercari JP, que constituem a principal fonte para os preços históricos e atuais no mercado doméstico (onde a oferta de Cosmotron e Seiko EL é mais abundante).
  • Mercado internacional (valor atual): anúncios e vendas recentes no Chrono24, especialmente nos mercados americano e de Hong Kong, para avaliar o prémio internacional e a liquidez fora do Japão. Hong Kong tornou-se um centro para estas peças, através de grupos de Facebook ou Telegram especializados, o que dá um bom indicador da procura asiática.
  • Topo de gama (leilões): resultados das vendas em leilão da casa Bonhams em Tóquio (sessões de 2022-2024), para validar os preços obtidos pelos exemplares excecionais ou NOS (mint condition).

Indicadores-chave definidos: cada relógio é avaliado segundo quatro indicadores quantitativos e qualitativos:

  • Preço 2015 ↔ 2025: uma estimativa do preço de mercado em 2015, comparada com uma projeção do valor em 2025 (tendo em conta as vendas efetivas de 2023-24). Os preços são fornecidos em EUR, USD, HKD e SGD para uma relevância global.
  • CAGR (Compound Annual Growth Rate): a taxa de crescimento anual composta ao longo de 10 anos (2015-2025) para quantificar o desempenho do investimento em percentagem.
  • Pontuação de Liquidez: uma pontuação qualitativa de liquidez que avalia a facilidade de vender o relógio no mercado atual. Alta significa uma venda rápida (alguns dias a semanas), Média indica alguns meses em média, e Baixa implica um prazo potencialmente longo e uma procura mais confidencial.
  • Custo de serviço: uma estimativa do custo de uma revisão completa por um relojoeiro independente qualificado, tendo em conta a complexidade e, sobretudo, a disponibilidade das peças específicas de cada calibre (bobina, transístores, ponte de contacto, adaptação de pilha, etc.).

Esta metodologia permitir-nos-á comparar o Cosmotron V2 e o Seiko 3302 não só nas suas características técnicas, mas também nas suas trajetórias de valor e implicações práticas para o amador que procura adquirir um em 2025.

3. Oito referências «smart-buy» sob a lupa

Aqui está a nossa seleção de oito modelos emblemáticos – quatro para cada marca – que representam pontos de entrada inteligentes neste mercado em 2025. Cada ficha combina análise técnica e perspetiva de investimento. (Nota: o teto de 1.800 € exclui voluntariamente certas variantes muito raras ou NOS que por vezes são negociadas acima deste valor, mas estas exceções confirmam a tendência geral.)

Citizen X8 Cosmotron “Mostrador Psicadélico” – ref. R020-503370 (1968-71)

Este modelo é um dos mais extravagantes da era Cosmotron. O seu mostrador opalescente com padrões concêntricos, combinado com um vidro facetado, cria um efeito visual “psicadélico” que capta a estética do final dos anos 60. Uma peça que não deixa ninguém indiferente e que atrai os colecionadores que apreciam o design arrojado.

O Citizen Cosmotron Psicadélico está frequentemente disponível na Catawiki. Explore os leilões para encontrar uma preciosidade!

Citizen Cosmotron Special com vidro facetado e mostrador holográfico (anos 70)
Um Citizen Cosmotron «Special» com um mostrador prateado com múltiplos reflexos e um vidro facetado típico dos anos 70. Este design, conhecido como «Psicadélico», é hoje muito procurado pelo seu visual inimitável – Crédito: MyRetroWatches.co.uk
Mostrador Cosmotron prateado escovado em processo de restauração
O mostrador de um Cosmotron «bullseye» parcialmente desmontado, revelando a dupla textura escovada circular e vertical. Sob certos ângulos, este padrão confere uma aparência de «olho de boi» bicolor – Crédito: MyRetroWatches.co.uk

Citizen X8 Cosmotron Special – ref. 7803-7021 (1969-72)

Esta referência alberga a joia da coroa tecnológica da Citizen. A presença do botão de reposição ilustra o espírito inovador da marca. A sua caixa em forma de almofada e o seu mostrador frequentemente vibrante (azul elétrico, verde esmeralda, etc.) conferem-lhe uma excelente presença no pulso. Um verdadeiro favorito dos colecionadores mais exigentes.

Encontre o Citizen Cosmotron Special na Catawiki, uma plataforma ideal para encontrar modelos raros e excelentes oportunidades.

Citizen Cosmotron 7803 Special em bracelete de cabedal
O Cosmotron 7803 Special em ação: note o botão às 8h para a reposição dos segundos e o mostrador azul-esverdeado iridescente. Esta peça «toolwatch» de alta tecnologia de 1970 mantém um estilo terrivelmente cativante – Crédito: Affordable Wrist Time
Detalhe do mostrador verde escovado do Cosmotron Special
Grande plano do mostrador verde escovado de um Cosmotron Special: os índices facetados e o logótipo aplicado testemunham a qualidade do fabrico. Este modelo atinge frequentemente a precisão cronométrica se bem ajustado – Crédito: Affordable Wrist Time

Citizen X8 Cosmotron “Bullseye” – ref. 7804-7000 (1970-73)

O design Bullseye é um clássico da relojoaria desportiva dos anos 70. A Citizen propôs uma interpretação audaciosa, com um mostrador de dois tons (frequentemente prata e antracite) muito legível. É o Cosmotron do conhecedor que aprecia detalhes subtis. A sua relativa raridade explica a sua menor liquidez: poucos vendedores, mas também poucos compradores capazes de apreciar devidamente este modelo um pouco underground.

O Citizen Cosmotron Bullseye está disponível na Catawiki, onde os colecionadores pacientes podem encontrar verdadeiros tesouros.

Citizen Jet Auto Cosmo – ref. R040 (1969-71)

Esta peça intrigante combina a herança do nome Jet (associado aos primeiros movimentos automáticos com rotor periférico da Citizen) com a tecnologia Cosmotron. As versões banhadas a ouro são menos comuns e oferecem uma alternativa mais elegante às caixas de aço. É o relógio eletromecânico “de cerimónia” por excelência, que se usa mais de bom grado à noite. Uma escolha de conhecedor que acredita no futuro vintage destes modelos menos “toolwatch” e mais elegantes.

Descubra o Citizen Jet Auto Cosmo na Catawiki, uma bela oportunidade para adquirir um relógio vintage elegante e raro.

(Note-se que todos estes Citizen mantêm a menção “X8” no mostrador até cerca de 1970, herança da primeira geração. Depois, apenas Cosmotron subsiste, sinal de que a gama estava agora bem identificada pelo público japonês.)

Seiko EL-330 – ref. 3302-9000 (1969-71)

Esta é a expressão mais pura e clássica da série EL-330. Caixa de aço, mostrador claro com reflexo raio de sol, índices aplicados simples. Um excelente ponto de entrada no universo eletromecânico da Seiko, combinando fiabilidade e elegância intemporal. Curiosidade: ao contrário dos Citizen, estes Seiko ostentam orgulhosamente a menção Electronic (ou EL-330) no mostrador, porque a Seiko precisava de educar o seu público sobre esta nova tecnologia, que na altura era um pouco esotérica.

O Seiko EL-330 está disponível aqui na Catawiki (muitos modelos raros e excelentes oportunidades de leilão).

Relógio Seiko EL-330 preto (década de 1970)
Um Seiko EL-330 típico (aqui a ref. 3302-8080 com mostrador preto). Minimalista e robusto, este modelo foi produzido em série para o grande público japonês entre 1969 e 1972 – Crédito: Mizeni.com

Seiko EL-330 – ref. 3302-9001 (1970-72)

Os mostradores texturizados, como o “linho” (imitação de tecido), são apreciados pelos colecionadores de Seiko vintage. Eles adicionam profundidade e sofisticação. Associado a uma janela de dia em kanji (ideogramas japoneses), este modelo é um favorito dos aficionados do mercado doméstico japonês. A produção mais limitada das versões Kanji explica a sua cotação ligeiramente superior.

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Citizen Cosmotron Kanji data bracelete de aço
(Exemplo ilustrativo) Este Citizen Cosmotron exibe o dia em kanji («土» para sábado). A Seiko também oferecia alguns EL-330 com discos Kanji, hoje muito apreciados pelos colecionadores exigentes – Crédito: Etsy (BurmaJadeShop)

Seiko EL-330 – ref. 3302-9010 (1971-72)

Um detalhe pode mudar tudo. Nesta referência, a substituição do índice habitual às 12h por um algarismo “12” aplicado confere-lhe uma personalidade única e um visual ligeiramente mais desportivo. É um exemplo da capacidade da Seiko de criar múltiplas variações subtis na mesma base – uma estratégia que alimenta a paixão dos colecionadores. Hoje em dia, damo-nos por nós a procurar estas versões com “detalhes” (Kanji, algarismo 12, índices especiais) que outrora passavam despercebidas!

O Seiko EL-330 “Arabic 12” é um modelo procurado, explore os leilões na Catawiki para conseguir um bom negócio.

Seiko Elnix – ref. 3303-8000 (1972-73)

Esta referência tardia utiliza o 3303 (dia-data) e aloja-o numa caixa mais robusta, inspirada nos relógios de mergulho (à prova de água até 70 m). Embora não seja um mergulhador certificado, a sua estética toolwatch distingue-a claramente dos outros EL-330 mais elegantes. A sua raridade torna-o um Graal para alguns colecionadores da série: pouco produzido, poucos sobreviveram, pouco conhecido – mas oh quão carismático com o seu visual de Seiko dos anos 70 viril.

O Seiko Elnix é uma peça rara. Fique de olho na Catawiki, é um dos melhores locais para encontrar este tipo de “Graal” relojoeiro.

Nota: existem outras referências Seiko Elnix (calibres 0703A, 0704A a partir de 1973), mas estas estão fora do âmbito do nosso duelo, pois pertencem à geração seguinte – vendidas sob o nome Elnix e não mais EL-330.

Extrato do catálogo Seiko 1974 Elnix 07ELW
Extrato do catálogo Seiko de 1974 mostrando três modelos Elnix 07ELW (substitutos dos EL-330) com os seus mostradores coloridos (azul, verde, castanho) e o preço de catálogo de 26.000¥ na época – Crédito: Adventures in Amateur Watch Fettling
#MarcaReferênciaApelido / CaixaAnosPreço 2015 (€)Preço 2025 (€)Preço 2025 (US$)Preço 2025 (HK$)Preço 2025 (S$)CAGR (2015-25)Liquidez
1CitizenX8 R020-503370“Mostrador Psicadélico” – aço 37 mm1968-71550 €1.350 €~1.462 $~12.525 HK$~2.175 S$≈ 8%Alta
2CitizenX8 7803-7021Almofada aço 38 mm1969-72520 €1.300 €~1.408 $~12.061 HK$~2.094 S$≈ 8%Média
3CitizenX8 7804-7000«Bullseye» bicolor – 38 mm1970-73500 €1.280 €~1.387 $~11.875 HK$~2.062 S$≈ 8%Baixa
4CitizenJet Auto R040Banhado a ouro, 37 mm1969-71480 €1.200 €~1.300 $~11.133 HK$~1.933 S$≈ 8%Baixa
5Seiko3302-9000Prata sunburst – aço 37 mm1969-71600 €1.450 €~1.571 $~13.452 HK$~2.336 S$≈ 7%Média
6Seiko3302-9001Mostrador linho Kanji – 37 mm1970-72620 €1.480 €~1.603 $~13.729 HK$~2.384 S$≈ 7%Média
7Seiko3302-9010“Árabe 12” – aço 37 mm1971-72580 €1.420 €~1.538 $~13.174 HK$~2.288 S$≈ 7%Alta
8Seiko3303-8000Caixa de mergulhador – aço 38 mm1972-73650 €1.550 €~1.679 $~14.379 HK$~2.497 S$≈ 7%Baixa

4. Duelo gráfico: desempenho e características num piscar de olhos

4.1. Índice de preços (2015-2025)

O gráfico abaixo ilustra a trajetória do valor para uma cesta média de relógios Cosmotron V2 e Seiko 3302, com base 100 em 2015. Ambas as séries tiveram um crescimento moderado até 2019-2020, altura em que surge um ponto de inflexão claro com a nova onda de interesse tecno-vintage. A curva do Cosmotron V2 mostra uma aceleração mais acentuada a partir de 2021, sugerindo que as suas características técnicas únicas (alta frequência, design arrojado, narrativa de “Swiss-Killer”) encontram um forte eco junto da nova geração de colecionadores. O crescimento do Seiko 3302 é mais regular e estável, impulsionado pela reputação geral da marca e pelo apelo dos colecionadores de Seiko vintage, sem um grande efeito de moda. O CAGR ligeiramente superior do Cosmotron (~8% vs ~7%) confirma esta tendência: um nicho que ganha popularidade mais rapidamente (mas com maior volatilidade potencial), face a um valor base da Seiko que progride de forma linear.

4.2. Diagrama de radar comparativo

Este diagrama em estrela oferece uma comparação sintética das forças e fraquezas de cada “plataforma” em quatro eixos-chave da experiência de posse: Precisão média, Autonomia da pilha, Custo de manutenção, Liquidez no mercado. O veredito visual é inequívoco e reflete perfeitamente as escolhas de engenharia de cada marca:

  • Precisão média – vantagem Cosmotron (alta frequência de 5 Hz), o seu polígono azul estende-se mais longe neste eixo. Estes relógios mantêm facilmente ±5 s/dia após um ajuste fino, rivalizando com os cronómetros mecânicos. Em contrapartida, o Seiko mantém-se em ~±15 s/dia, correto, mas nada de especial.
  • Autonomia da pilha – vantagem clara para o Seiko. O 3302 consome pouco (frequência mais baixa, sem transístor), uma pilha de 1,55 V dura ~1,5 anos. Já o Cosmotron esgota a sua pilha de 1,35 V em ~8 a 10 meses devido às 36.000 alt/h.
  • Custo de manutenção – também aqui vantagem para o Seiko. A sua construção simples com contactos é bem conhecida dos relojoeiros: uma revisão padrão custa 150-200 €. Pelo contrário, o Cosmotron requer um especialista (encontrar uma bobina de substituição ou um transístor da época não é trivial): conte com 250-300 € no mínimo.
  • Liquidez – ambos se equivalem em 2025 (pontuação média). O Cosmotron tem menos amadores absolutos, mas estes estão prontos a saltar sobre as belas peças. O Seiko tem um público mais vasto, mas também uma maior oferta no mercado.

Em suma, o Cosmotron é um puro-sangue de alto desempenho com as limitações que isso implica (fragilidade, manutenção especializada), enquanto o Seiko é um cavalo de batalha robusto e fiável, sem brilho particular, mas sem problemas.

Mostrador verde do Seiko Elnix 0703A em grande plano
Alguns relógios eletromecânicos ostentam designs exuberantes dignos dos anos 70. Aqui, o mostrador verde metalizado de um Seiko Elnix de 1974, com logótipo de relâmpago vermelho e índices dourados/cromados, vibra a fibra geek com a sua estética retro-futurista – Crédito: Adventures in Amateur Watch Fettling

6. O dossier do comprador: checklist de compra & autenticação

Adquirir um destes relógios com mais de 50 anos requer um olho treinado. Aqui está uma checklist para navegar neste mercado de nicho e evitar as armadilhas comuns. (Esta lista é fruto das nossas próprias experiências, incluindo alguns dissabores que partilhamos aqui com total transparência…)

6.1. Verificação do movimento: “saúde” da bobina, do transístor, dos contactos

A inspeção do calibre é o passo mais crítico, especialmente para estes movimentos eletromecânicos onde a mais pequena peça defeituosa é difícil de substituir.

Citizen Cosmotron V2 (série 7800): A Bobina – é o calcanhar de Aquiles. Peça ao vendedor a resistência da bobina de cobre. Um valor saudável deve ser inferior a ~500 Ω. Um valor infinito significa que a bobina está queimada, tornando o movimento quase irreparável. O Transístor – procure o transístor original, idealmente com a marca NEC. É uma garantia de autenticidade. Corrosão – inspecione atentamente a platina à volta do alojamento da pilha. Qualquer vestígio de corrosão é um grande sinal de alarme.

Grande plano do interruptor Reed de um movimento Seiko (EL-330)
Grande plano de um movimento Seiko equipado com um interruptor Reed (o fio de cobre duplo muito fino à direita) e a sua bobina (em cima). Estes componentes são frágeis: um choque pode torcer ou quebrar o contacto, tornando o relógio mudo – Crédito: CrazyWatches.pl

Seiko 3302/3303: A Ponte de contactos – inspecione-a para detetar riscos profundos ou um parafuso em falta. Mancais de rubi – certifique-se de que os rubis dos pivôs estão intactos. O interruptor Reed – é a peça delicada por excelência: duas lâminas finas como um cabelo, fechadas numa pequena ampola de vidro. Um choque violento pode parti-la de imediato. Dica: nos Seiko EL-330, puxe a coroa para a posição de ajuste: isto para o relógio (hack). Na posição recolhida, dê um toque leve com a ponta do dedo no relógio: se o movimento não arrancar instantaneamente, há um problema de contacto.

Movimento Citizen Cosmotron 4840 aberto, bobina e transístor visíveis
Movimento de um Citizen Cosmotron de primeira geração (cal. 4840, aqui na sua caixa): a bobina de cobre (em cima à esquerda) e o transístor no circuito verde são elementos a verificar absolutamente na compra (resistência, corrosão…) – Crédito: Sweephand (Vintage Citizen)

6.2. A questão crucial da pilha (1,35 V vs 1,55 V)

Este é um ponto não negociável para a saúde a longo prazo do seu relógio. Problema: os Citizen Cosmotron foram concebidos para pilhas de mercúrio de 1,35 V, hoje proibidas. Os Seiko 3302 já usavam pilhas de óxido de prata de 1,55 V e, portanto, não são afetados.

Solução errada: colocar uma pilha moderna de 1,55 V diretamente num Cosmotron. A sobretensão fará o relógio funcionar demasiado rápido e corre o risco de queimar os componentes a longo prazo.

Solução correta: usar um adaptador de pilha. Trata-se de um pequeno anel metálico que contém um díodo Schottky que baixa a tensão. Estes adaptadores são indispensáveis para qualquer proprietário de um Cosmotron. Moral da história: não poupe neste adaptador 😉.

6.3. Lume: rádio ou trítio?

A matéria luminescente dos índices e ponteiros levanta questões de segurança e autenticidade. Os Citizen e Seiko do nosso duelo usam normalmente trítio. A regra é: “T” marcado = trítio, ausência de marcação num relógio dos anos 60 = suspeita de rádio. O único método fiável é um contador Geiger. Em caso de dúvida, é melhor testar – colecionar conscientemente um relógio com rádio que vai dormir na sua mesa de cabeceira não é recomendado.

7. “Risco / Recompensa”: riscos e recompensas potenciais

Como qualquer investimento num nicho de coleção, a compra de um relógio eletromecânico vintage acarreta riscos – mas também recompensas – que devem ser bem ponderados.

Riscos (os escolhos)Recompensas (as vantagens)
Escassez crítica de peças – O risco n.º 1. Uma bobina de Cosmotron queimada ou um comutador de Seiko 3302 partido são praticamente impossíveis de encontrar. O relógio torna-se então um dador.

Danos por pilha – Uma pilha que vazou pode ter causado estragos por corrosão. Inspeção minuciosa imperativa.

Fragilidade das peças estéticas – Encontrar um vidro de origem, especialmente os vidros facetados, é muito difícil.

Nicho em pleno crescimento – O mercado do electro-vintage é impulsionado por um interesse crescente. A valorização média anual é de ~7-8%.

Arbitragem geográfica – Uma parte da oferta ainda se encontra no Japão a preços mais baixos. São possíveis mais-valias.

Potencial de crescimento elevado – Se a tendência tech heritage se confirmar, um potencial de +50 a +70% em 5-7 anos não é irrealista para os exemplares de primeira ordem.

Movimento Seiko 0703A corroído por fuga de pilha
Exemplo de dano causado por uma pilha de mercúrio que vaza: aqui um movimento Seiko 0703A dos anos 70, cuja platina ficou coberta de depósitos verdes. Este tipo de corrosão (⚠️) é muitas vezes irreversível – Crédito: Adventures in Amateur Watch Fettling

A minha opinião firme: estes riscos, embora reais, não devem dissuadi-lo se for apaixonado. É simplesmente uma questão de comprar com conhecimento de causa. Sim, é mais arriscado do que um relógio mecânico padrão, mas para quem gosta de tecnologia e história, o jogo vale a pena! Pessoalmente, considero que a recompensa supera largamente o risco.

Conclusão: o “tique” que ainda ressoa

O duelo entre o Citizen Cosmotron V2 e o Seiko 3302 não é apenas uma comparação de fichas técnicas; é o testemunho de uma época charneira, um parêntese fascinante entre o apogeu do puramente mecânico e o advento do quartzo. De um lado, a Citizen jogou a cartada da inovação de rutura. Do outro, a Seiko demonstrou um domínio pragmático. Hoje, em 2025, estes relógios tornaram-se objetos de culto para uma nova geração de colecionadores.

Para o colecionador, a escolha dependerá do seu perfil. O Cosmotron oferece um potencial de crescimento superior e uma história tecnológica mais “radical”, mas ao preço de uma fragilidade mais elevada. O Seiko representa um investimento mais estável, uma peça mais fácil de viver, mas com uma narrativa menos espetacular. Em ambos os casos, o amador terá a satisfação de possuir um relógio que sai do comum.

Qualquer que seja o caminho escolhido, uma coisa é certa: para aqueles que sabem apreciar a interseção da arte mecânica, da história eletrónica e da emoção da coleção, o tique-taque rápido e singular destas maravilhas oferece uma satisfação que poucos outros nichos conseguem proporcionar. É o som de uma revolução falhada, mas cujo eco, meio século depois, nunca foi tão claro. E sempre que encosto o ouvido ao meu Cosmotron em funcionamento, tenho a impressão de ouvir um pequeno engenheiro japonês de 1968 a sussurrar-me: “o futuro está a chegar, e tu tens um pedaço dele no teu pulso” – isso não tem preço.

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Valery

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